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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sete milhões” seriam melhor geridos pela banca

O país. Quinta, 16 Abril 2009 08:14 Boaventura Mucipo

PCA do GAPI considera que o Fundo de Investimento de Iniciativa Local (FIIL), vulgo sete milhões de meticais, poderia ter sido aplicado com mais eficiência se estivesse nas mãos da banca.

Numa entrevista concedida, esta quarta-feira, ao nosso jornal, o Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Gabinete de Apoio a Pequenos Investimentos (GAPI) e vice-PCA do Banco Terra, António Souto, falou dos projectos das instituições que dirige, todas elas com actividades viradas, em particular, para as zonas rurais. Souto disse que o Banco Terra vai abrir seis novos balcões, dentro de quatro meses, e que o capital da instituição será, significativamente, reforçado com o objectivo de conseguir musculatura financeira suficiente para se implantar no país inteiro. A seguir, os excertos mais importantes dessa entrevista.

FINANÇAS RURAIS

No ano passado, num programa televisivo, o senhor criticou os governos provinciais por intervirem nas instituições financeiras localizadas nas zonas rurais. Chegou mesmo a dizer que há governantes que vão buscar dinheiro nessas instituições sem obedecer às regras instituídas. Ainda mantém esta crítica?

Não tenho este pensamento. Isto é conhecido publicamente e há dias, fui convidado a uma reunião, onde se discutiu o sistema dos financiamentos através do FIIL e foram públicas as observações feitas pelos administradores, membros do governo provincial, de que isso acontece. Se estamos a falar de crédito, é preciso termos instituições apropriadas para dar crédito. As instituições das administrações locais não foram concebidas e não estão preparadas para fazer isso. A observação não é minha, é de todas as pessoas que sabem como funciona o sistema financeiro. (Quando não se observam as regras) o resultado é óbvio: há desvios e uma ineficiente aplicação. Contudo, penso que, nos últimos tempos, o governo tomou consciência disso e está a corrigir algumas dessas falhas que são bastantes, porque, de certa maneira, há um volume de recursos que estão a ser aplicados por essa via, mas que poderiam ter um impacto maior no desenvolvimento do distrito, se fossem aplicado através de instituições do sistema financeiro.

As suas críticas estendiam-se aos trabalhos que as ONG estão a desenvolver nos distritos na área de micro-finanças. Dizia que a actividade dessas organizações não tem réplica.

É fundamental construir um sistema financeiro descentralizado, que é feito através de instituições comunitárias, que são os micro-bancos rurais. as organizações de poupança e empréstimos que temos (GAPI) feito a nível de muitos distritos, aliás, nos nossos números, temos 33 casos que abrangem cerca de 20 distritos, onde as iniciativas de montar bancos comunitários estão a funcionar lindamente.

Há três semanas, estive em Caia, Sofala, e reuni-me com um grupo de 30 mulheres que, com o nosso apoio, fizeram o seu banco comunitário. Em 2008, elas pouparam 1.4 milhão de meticais e alguns membros desse grupo investiram, nos seus negócios, cerca de 2.2 milhões de meticais.

Essas experiências existem por todo o país e isto é extremamente importante não só no aspecto financeiro em si de incentivar a poupança, como é particularmente importante no desenvolvimento do espiríto empresarial das pessoas, no sentido de atrair pessoas que, através da banca comercial, não têm nenhuma possibilidade.

Assim...

-Esta é uma forma que acho muito mais eficiente do que a iniciativa de muitos parceiros de cooperação internacional, que desperdiçam muito dinheiro através de projectos de ONG, etc., que não tem qualquer réplica. A minha crítica a esses casos é no sentido de dizer que existem, em Moçambique, condições para uma aplicacão mais eficiente desses recursos.

Este governo instituiu no seu primeiro ano de mandato o Fundo de Investimento de Iniciativa Local virado para os distritos. O senhor lida com as finanças rurais há mais de 13 anos e conhece melhor a actividade bancária nesses lugares. Qual é avaliação que faz deste fundo desde que entrou em vigor?

- Não estou dentro dos detalhes disso. O que sei é o que ouvi dizer na reunião que ocorreu há semanas na Ilha de Moçambique, em Nampula, onde estavam dezenas de administradores. Posso, quando muito, citar as observações lá feitas. Tenho algumas preocupações sobre isso, porque o que foi dito lá é que até ao momento já foram aplicados 200 milhões de dólares americanos nesse fundo. Posso fazer a seguinte comparação: 200 milhões de dólares são duas pontes sobre o Zambeze; hoje, o GAPI tem activos totais na ordem de 24 milhões de dólares americanos e, ao longo destes anos todos, o dinheiro que recebemos dos parceiros é de cerca de 13 milhões de dólares. De destacar que estamos a trabalhar neste momento em 32 distritos, temos uma rede de 14 escritórios abragendo todas as províncias, criamos o Banco Terra, temos outras micro-instituições financeiras a surgirem, isto tudo custou 13 milhões de dólares. Ora, se compararmos estes 13 milhões de dólares ao longo destes 15 anos com os 200 milhões de dólares gastos nos últimos 3 anos, fico um bocado preocupado. Acredito que poderia haver um sistema mais eficiente de utilizar esses recursos.

O BANCO TERRA

Ano passado, foi criado o Banco Terra, do qual a GAPI é accionista com 29% das participações e o senhor o vice-PCA. Qual é o ponto de situação de lá a esta parte?

O banco está a ser implementado. Levámos este primeiro ano a formar quadros, a preparar a abertura de balcões e posso assegurar que, nos próximos quatro meses, vamos abrir seis balcões do Banco Terra.

Onde é que estarão localizados estes bancos?

- Vamos abrir em Nampula, Malema; Tete, Ulongué; Beira, Chimoio e Maxixe, sendo que as infra-estruturas e balcões estão montados, tanto mais que o de Nampula já está a funcionar.

Porquê apostar na área dos agro-negócios considerada de alto risco?

Porque essa é a nossa experiência da GAPI. Nós, fazendo este papel de banco de desenvolvimento, percebemos que para darmos o nosso contributo ao desenvolvimento do país é incontornável atender às necessidades do sector agrícola, dos agro-negócios, em geral. Ora, nós como GAPI continuamos a desempenhar o nosso papel de promover as empresas e comunidades, através de serviços financeiros que permitam melhorar a sua bancabilidade. Mas, depois, chega-se a um certo ponto de consolidação e crescimento destas empresas. Daí que é preciso haver uma banca comercial capaz de prestar serviços financeiros específicos para este sector, que é o sector-chave da economia do país. Por isso, independentemente dos riscos, acordamos com os nossos parceiros, o KFW da Alemanhã, Rabobank da Holanda , Norfund da Noruega, avançar para a criação do banco. Está claro para nós que, nos próximos dois a três anos, este banco não vai ter lucros. Mas o objectivo é criar uma instituição capaz de, a longo prazo, ter um impacto positivo na economia do país. Acreditamos no potencial de negócios que o sector da agricultura tem em Moçambique, não é uma questão de caridade.

Qual é o investimento programado para os primeiros anos da implementação do projecto?

- O investimento inicial foi de 10 milhões de dólares, mas estamos a negociar um aumento do capital do banco.

Para quanto?

- Há várias hipóteses. Não posso ainda publicamente dar detalhes sobre isso, mas vamos tentar mais do que duplicar o capital, visto que, para atender o sector dos agro-negócios a nível nacional, isso não deve ser feito só em Maputo. É preciso estar em todo o país e montar uma máquina enorme. Isto tem um custo enorme, mas estamos a fazê-lo e dentro em breve será bem visível. Para atender a isto, os alicerces financeiros necessários têm que ser reforçados. (retirado daqui)

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