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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Em Gondola camponeses sentem-se burlados

Savana - Tema da Semana
Escrito por André Catueira
Um grupo de 20 camponeses, pertecentes a quatro associações, diz-se burlado pelo governo do distrito de Gondola, província de Manica, por não receber do executivo o gado bovino no âmbito dos “sete milhões” depois de ter pago o adiantamento de cinco mil meticais para sua aquisição há três anos. O governo reconhece a dívida e disse estar a procura de mecanismos para ressarcir o prejuízo.

Segundo apurou o SAVANA, o governo distrital de Gondola terá contactado em 2007 os camponeses para se organizarem em associações, para se beneficiarem de gado bovino, no âmbito do controverso Orçamento de Investimento de Iniciativa Local (OIL), vulgo sete milhões, para impulsionar a produção e a produtividade. Para tal, os associados deviam pagar um adiantamento de cinco mil meticais em troca de uma junta de bois.
O valor remanescente (33.500,00 meticais) seria pago em oito prestações, valores considerados fora dos padrões para o fomento pecuário. “Porque estávamos interessados em aumentar a produção, decidimos pagar os cinco mil meticais para beneficiarmos da junta. Dois meses depois começaram os adiamentos na entrega dos animais e de lá a esta parte nunca mais tivemos nem os bois, nem o dinheiro”, disse Albino Matias, presidente da associação Zano Rimwe, baseada em Marera, posto administrativo de Macate, distrito de Gondola.

Ainda segundo a fonte, as tentativas de cobranças dos animais e/ou dos valores foram em vão pelo facto da administração local estar sempre a remetê-los aos serviços distritais de actividades económicas que, por sua vez, os devolve a proveniência, numa espécie de “ping pong”. “Quando cobramos eles (a administradora e seu elenco) prometem que nos vão dar os animais, alegando que um pai não rouba aos filhos”, disse ao SAVANA Matias para depois desabafar nos seguintes termos: “já estamos cansados destas jogadas”. Por seu turno, Bitoni Saene, presidente da associação Simukai Kaweza, sedeada no posto admi-nistrativo de Matsinhe, em Gondola, que espera a entrega dos bois pelo governo desde Outubro de 2007, disse que a situação tem estado a criar um desconforto entre os associados que contribuíram com os cinco mil meticais.

“Nossa maior preocupação é recuperar os bois ou o dinheiro, porque já passam quase três anos que o problema não tem solução e isso nos aflige porque sacrificamo-nos para pagar os cinco mil ”, disse Saene. Na sequência da demora na entrega dos animais, há quem chegou a desistir da iniciativa de aquisição dos mesmos, cobrando o seu valor de volta. Tal é o caso de David Florindo, que disse ter exigido de volta o seu dinheiro, ao considerar fracassado a iniciativa local de fomento pecuário naquele distrito. O governo distrital de Gondola confirmou algumas desistências, mas diz que continua a desenvolver a iniciativa para revolucionar a actividade agrícola, naquele distrito, também considerado como o celeiro da província de Manica.

Gado desviado?
Em contacto com o nosso jornal o delegado distrital da pecuária em Gondola, Fernando Francisco, disse que tem estado a deparar-se com “muitas queixas” de camponeses que reclamam não ter recebido bois desde 2007 no âmbito do OIL. “As pessoas têm reclamado aqui (na pecuária) não terem recebido bois no âmbito do OIL e quando temos ido distribuir os bois no circuito da revolução verde (desenvolvido pelo MINAG) verificamos que há muita fúria nas pessoas, mas são programas completamente diferentes”, disse Francisco, tendo avançado que “a falta de clareza na implementação do programa dos sete milhões pode estar a criar problemas para os produtores”.

A fonte disse ter recebido ordens das entidades administrativas do distrito, no sentido de “desviar” 30 cabeças de gado bovino, alocados à sua instituição pelo Ministério da Agricultura, para o programa de revolução verde, para beneficiar “os que não tinham recebido do OIL”, ordem que não acatou.
A fonte disse que não havia clareza sobre os procedimentos dos pagamentos das tranches (o MINAG cobra 12.800,00 meticais pagável em duas prestações e o governo 38.500,00 meticais em oito prestações). “Quando fomos entregar o gado do MINAG em Macate, descobrimos que os beneficiários eram todos no âmbito dos sete milhões (cuja entrega estava atrasada) e decidimos não entregar porque estaríamos a confundir os programas. Mas mesmo assim, três dos 30 animais foram desviados por força do governo local”, disse a fonte.

Fomos enganados
Entretanto, a administradora do distrito de Gondola, Catarina Dinis, reconheceu a demora na entrega de animais, mas confirmou apenas quatro beneficiários que aguardam pelas juntas. Catarina Dinis contou que aquando do desenho da iniciativa do fomento pecuário, o governo distrital rubricou um acordo com uma empresa ligada ao ramo pecuário (Projecto de Fomento Pecuário de Manica), pertencente a um cidadão apenas identificado por Macuácua. Esta apenas forneceu pouca parte do gado, incluindo charruas e carroças, tendo de seguida interrompido o processo mesmo depois de receber toda a verba. “Tivemos que remeter o caso à justiça, e a empresa foi sentenciada a devolver aquilo que é do governo para podermos beneficiar, portanto, a estes cidadãos que não tinham beneficiado do gado, mesmo depois de terem adiantado com o valor de cinco mil meticais. Mas mesmo assim a empresa nada fez”, disse Dinis. Face ao problema, orientou os postos administrativos a priorizarem a afectação de gado bovino no ano de 2008, aos que não os tiveram no ano anterior, o que minimizou o problema.

“Mas depois tivemos a orientação (do governo central) de que não devíamos comprar os animais, mas sim financiar projectos” disse Dinis, sem no entanto, esclarecer a razão dos camponeses aguardarem os animais com o seu dinheiro no cofre da administração. Questionado sobre a solução do problema, a fonte avançou que as pessoas serão integradas este ano na lista dos beneficiários no âmbito do Plano de Acção para Produção de Alimentos (PAPA), devendo os cinco mil meticais adiantados serem depositados na conta deste programa, para o Fomento Pecuário. “Eu penso que é o mesmo gado. O importante, talvez, é depositar o valor que já tinham adiantado, na conta do PAPA e eles beneficiarem, de igual modo, dos animais, das carroças e charruas”, aclarou Dinis. O distrito de Gondola deverá receber este ano 76 juntas de bois que vão beneficiar igual número de pessoas ou associações, para o incremento da produção.
(retirado daqui)

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